Orientação
em Anticoncepção
A
orientação é um elemento essencial para a qualidade
de atenção em planejamento familiar. É um processo
que auxilia clientes a tomarem decisões voluntárias
e informadas sobre a escolha do método
anticoncepcional. |
Orientação em anticoncepção significa
interação face a face, através da qual uma pessoa
(orientador) auxilia uma outra (usuária atual ou potencial)
a tomar uma decisão informada sobre a escolha do método
anticoncepcional e colocá-la em prática. A orientação
contém quatro elementos básicos:
- Comunicação
em duas vias;
- Ajuda
às (aos) usuárias (os) para tomar decisões voluntárias,
informadas e bem pensadas acerca de sua fertilidade
e contracepção;
- Ajuda
à (aos) usuária (o) a usar o método corretamente:
- Resposta
às necessidades e valores individuais de cada usuária
(o).
Nota:
Os conceitos de orientação e de
educação em planejamento familiar diferenciam-se
na medida em que a ação educativa, realizada
em pequenos grupos e usando metodologia participativa,
tem como objetivo preparar e dar elementos para que
as pessoas tenham uma opinião formada sobre
seus direitos sexuais e reprodutivos e, principalmente,
sobre as diferentes opções anticoncepcionais,
de maneira que sejam capazes de realizar uma escolha
livre e informada.
Os
programas de planejamento familiar de boa qualidade
são aqueles que procuram a melhor maneira de
atender às necessidades das pessoas, através
da oferta de serviços que se adaptem às
características da população
atendida. Neste sentido, a orientação
se insere dentro dos seis elementos fundamentais da
qualidade de atenção:
Elementos
fundamentais da qualidade de atenção
|
- Escolha
livre de métodos.
- Informação
para usuárias.
- Competência
técnica.
- Relação
usuária-serviço.
- Acompanhamento
de usuárias.
- Integração
do planejamento familiar ao atendimento em
saúde reprodutiva.
|
Bruce,
1990
|
Numerosos
estudos têm demonstrado que existe uma relação direta
entre uma boa orientação em planejamento familiar
e:
- A
escolha adequada do método:
- A
satisfação com o uso;
- O
uso correto do método;
- A
melhor aceitação dos efeitos colaterais;
- A
continuação do uso do método;
- A
continuidade no serviço de saúde.
Um
dos elementos mais importantes para a orientação
adequada em anticoncepção é a
escolha informada. O processo de escolha informada
baseia-se nos princípios de autonomia e direitos
humanos individuais, inclusive os direitos sexuais
e reprodutivos, e deve garantir que as pessoas tomem
suas próprias decisões em cuidados à
saúde e planejamento familiar. Quando uma pessoa
toma uma decisão baseada em informações
úteis e acuradas, terá feito uma escolha
informada.
Direitos
Sexuais e Reprodutivos
- Direito
de desfrutar das relações
sexuais, sem temor de gravidez e/ou contrair
uma doença transmitida pela relação
sexual.
- Direito
de decidir quantos filhos quer ter e quando
tê-los.
- Direito
de ter gestação e parto nas
melhores condições.
- Direito
de conhecer, gostar e cuidar do corpo e
dos órgãos sexuais.
- Direito
de ter uma relação sexual
sem violência ou maltrato.
- Direito
de ter informação e acesso
aos métodos anticoncepcionais.
CIPD,
Cairo, 1994
|
Objetivos
da Orientação
O
principal objetivo da orientação em planejamento familiar
é facilitar o exercício de um dos direitos
sexuais e reprodutivos, que é "o direito
de decidir quantos filhos quer ter e quando tê-los".
Num sentido imediato, é auxiliar a promover
o empoderamento* das pessoas para que elas tenham
a oportunidade de discutir suas circunstâncias,
necessidades e opções em relação
à fertilidade e contracepção.
*
Nota: Empoderamento não consta nos dicionários
de língua portuguesa, mas é a tradução mais próxima
do termo "empowerment" e significa fortalecer
a capacidade interna das pessoas para tomarem
suas próprias decisões. |
Como
a orientação deve ser realizada
Em
primeiro lugar, é muito importante ter em mente que
orientação significa ajudar as pessoas no processo
de tomada de decisão.
Assim,
o orientador deve ajudar a(o) usuária(o) potencial
a pensar sobre:
- As
suas próprias características: condições de saúde,
metas reprodutivas, trabalho, acesso aos serviços
de saúde, sexualidade, valores, religião, etc.
- As
características dos métodos:
- Mecanismo
de Ação: devem ser fornecidas
as informações de maneira clara
e completa sobre como funcionam os métodos
anticoncepcionais.
- Modo
de Uso: as instruções sobre o modo de uso
devem ser claras e práticas e devem também incluir
instruções sobre o que as(os) clientes devem
fazer caso surjam problemas (tais como esquecer
de tomar a pílula, efeitos colaterais, etc.)
- Eficácia:
As taxas de gravidez para um método quando em
uso típico (ou seja, usado de maneira habitual)
dão à(ao) cliente uma idéia geral da eficácia
na experiência individual. As taxas de gravidez
para um método usado consistente e corretamente
dão uma idéia da eficácia do método na melhor
das possibilidades.
- Efeitos
Colaterais: as (os) clientes devem ser informados
sobre os efeitos colaterais dos métodos durante
a orientação. Devem saber que os efeitos colaterais
podem ser incômodos, mas não necessariamente
sinais de gravidade ou sintomas de uma complicação
séria. É importante, ainda, que conheçam os
sinais e sintomas de alguma complicação séria,
que justificam o retorno imediato ao Serviço.
- Efeitos
Não-Contraceptivos: as(os) clientes devem
ser informadas (os) sobre os efeitos não relacionados
ao efeito anticoncepcional de cada método.
- Critérios
de Elegibilidade Médica: as (os) clientes
devem ser informados (as) de que existem condições
médicas que poderiam significar limitações
para o uso dos diferentes métodos. A
lista dos critérios de elegibilidade
médica dividem-se em quatro categorias:
- Outras
características, como custo, esquema de acompanhamento,
etc.
Somente
considerando esses fatores é possível para as pessoas
fazer uma escolha livre e informada do método mais
apropriado para elas.
Importante:
A orientação necessariamente implica no estabelecimento
de uma relação interpessoal cordial, de confiança,
onde exista um equilíbrio de poderes:
- o
poder que a (o) usuária(o) tem de escolher
e de tomar decisões;
- o
poder do orientador de contra-indicar o
uso de métodos que coloquem em risco a saúde
das pessoas.
Díaz
et al, 2000
|
O
passo seguinte da orientação é certificar-se de que
a pessoa compreendeu como deve usar o método escolhido
e fornecer informação complementar sobre tudo o que
a (o) usuária(o) desejar saber, incluindo o esquema
de acompanhamento e como lidar com os efeitos colaterais.
O
processo de orientação deve estender-se às consultas
subsequentes para:
- Avaliar
o grau de satisfação com o método;
- Esclarecer
dúvidas e reforçar informações em relação ao uso
do método;
- Dar
espaço à (ao) usuária(o) para poder falar de outros
problemas que, eventualmente, poderia ter, como
sexualidade, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis,
etc.
- Dar
liberdade à (ao) usuária (o) para descontinuar o
método e oferecer ajuda para um novo processo de
tomada de decisão, quando ainda haja necessidade
de anticoncepção.
Quem
deve orientar
A
orientação pode ser realizada por qualquer membro
da equipe de saúde, desde que esteja adequadamente
treinado e qualificado. Isto significa que, além dos
conhecimentos sobre todos os métodos anticoncepcionais,
um orientador necessita reavaliar suas atitudes e
valores, adquirir habilidades de comunicação e ter
conhecimento das características da população que
vai atender.
As
principais características de um bom orientador são:
- Gostar
do que faz.
- Ver
a mulher e/ou o homem como seres integrais, pensantes,
e não como um conjunto de órgãos isolados.
- Ter
interesse e respeito pelas necessidades e valores
das pessoas.
- Ter
conhecimento sobre a anatomia e fisiologia sexual
e reprodutiva, sobre todos os métodos anticoncepcionais,
assim como de outras questões da saúde reprodutiva,
como por exemplo, DST/AIDS.
- Ter
conhecimento e capacidade para abordar com naturalidade
os assuntos relacionados à sexualidade humana.
- Ter
habilidade de comunicação interpessoal e permitir
que as pessoas exponham seus pontos de vista.
- Saber
comunicar-se de forma clara, simples, usando uma
linguagem adequada para as(os) usuárias(os), de
maneira que a comunicação realmente aconteça.
- Saber
usar apoio visual.
- Saber
fazer perguntas adequadas (fechadas, abertas,de
aprofundamento).
-
Estar disponível para responder todas as perguntas
da usuária.
- Transmitir
informações de maneira imparcial, sem favorecer
nenhum método específico.
- Manter
atitude não-autoritária e de respeito ao poder de
decisão da(do) usuária(o).
- Reconhecer
seus limites e referir a(o) usuária(o) a outro serviço
quando considerar necessário.
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